Grupo: Qualidade, Preços e Forma de Contratação de um Projeto Estrutural
    Início: 26/Março/1996
Patrocínio: SISTRUT

REF.:  SÊLO DE QUALIDADE


Prezados Senhores,

Durante o evento do primeiro aniversário da associação, tive a oportunidade
de tomar conhecimento através das palavras do Eng. Natan das primeiras idéias
referentes ao posicionamento da ABECE com relação ao programa 'sêlo de
qualidade' que se pretende implantar.
Não seria na ocasião o melhor momento e muito menos o local oportuno para
espressar meus comentários assim, devido a dificuldade que ultimamente tenho
tido para comparecer pessoalmente em reuniões da associação, achei que seria
conveniente enviar estes comentários por escrito com o intuito de colaborar
para o referido assunto.

Com relação à idéia apresentada, e levando em consideração a experiência que
possuimos em tratar com diferentes escritórios de projeto que possuem
procedimentos de cálculo, macetes e particularidades adquiridas ao longo
de seus projetos, e não podendo esquecer rivalidades que existem entre estes
escritórios, concluímos que:

1.  Atribuir a ABECE ou a qualquer delegacia regional que a ela represente,
    o poder de analisar o conteúdo de um projeto e, dentro de parâmetros
    pela associação pré-estabelecidos classificar o conteúdo deste projeto
    seja em relação à parte técnica/engenharia, atendimento ao cliente,
    ferramentas disponíveis para análise, quadro de funcionários,
    curriculum, etc... :
    *  obriga o associado ao fornecimento de informações consideradas
       por ele particulares ou de feeling pessoal .
    *  obriga que um profissional qualificado da associação despenda um
       determinado tempo logicamente não remunerado, para analisar estas
       informações.
    *  coloca o associado em uma posição de estar sendo verificado por outro
       profissional, não contratado pelo seu cliente, e atuante no mercado.
       Logicamente ocorrerão situações onde o escritório ou profissional que
       está solicitando o sêlo de qualidade concorra diretamente com um ou
       mais profissionais da associação.
    *  coloca a associação em uma posição política muito delicada com
       relação aos seus associados na medida que passarão a existir
       comentários do tipo 'como o escritório X pode ter obtido o padrão
       de qualidade igual ao meu sendo que já tive a oportunidade de ver
       alguns de seus projetos e sei que os mesmos deixam muito a desejar'
    *  atribui a associação uma co-responsabilidade aos projetos de
       escritórios ou profissionais que tenham recebido o sêlo de qualidade.

2.  Fazer com que o associado tenha o interêsse de vir à associação
    solicitar o sêlo de qualidade ...
    *  obriga o associado a uma iniciativa própria e não uma pressão de
       mercado visto que, atualmente a totalidade de escritórios associados
       a ABECE é qualitativa e representativa em relação à totalidade dos
       projetos no mercado porém, não é quantitativa em relação ao número
       de escritórios ou profissionais autônomos atuantes.
    *  coloca o não associado em uma possição de oposição aos associados,
       despertando a idéia da 'panelinha' entre os amigos da associação.
    *  permite que o não associado venda o seu projeto como de qualidade
       mesmo não sendo associado e não tendo devido a isto, o seu trabalho
       analisado.  devemos lembrar que pelas idéias apresentadas,
       o contratante na maioria dos casos não tem conhecimento do que se
       trata 'qualidade' no projeto estrutural.
    *  obriga a associação a manter permanente controle sobre os escritórios
       com sêlo adquirido.

3.  Obriga que a associação possua regras muito bem definidas de análise
    destas informações ...
    *  os procedimentos para obtenção destas informações dos associados é
       extremamente delicado, inicialmente pela facilidade interna de
       organização de cada profissional (tenhamos em vista as diversidades
       dos materiais referentes aos curriculuns até então apresentados) e,
       pela própria organização da associação de criar critérios ao longo
       do tempo de forma a aplicar os mesmos pesos e medidas para diferentes
       associados em situações semelhantes.
    *  devemos lembrar que poderão futuramente existir outros membros na
       associação que venham alterar estes procedimentos de análise visto
       que, trata-se de um procedimento interno da associação e não um
       procedimento de mercado.

Levando então em consideração o acima disposto, gostaríamos de esclarecer
que na nossa opinião a idéia apresentada é, será ou seria a forma ideal de
implantar um programa de 'sêlo de qualidade' porém, a quantidade de
diversidades e a responsabilidade + trabalho que passa a assumir a
associação é muito grande, podendo a curto prazo inviabilizar o programa e
desviar o principal motivo da criação da associação que é valorizar o
profissional de estruturas perante o contratante e a sociedade como um todo.

Gostaríamos então de propor uma idéia muito mais simples baseada nos
seguintes princípios:

A.  Atribuir aos contratantes o interesse de solicitar um projeto estrutural
    dentro de certos padrões de qualidade.
    *  retira da associação a obrigatoriedade da análise dos trabalhos dos
       associados.
    *  obriga a associação à definição de padrões de qualidade bem
       específicos (vide exemplo abaixo) que poderão na medida do interesse
       do contratante serem solicitados.
    *  universaliza a aplicação da qualidade visto que, mesmo os não
       associados estarão sujeitos a apresentar propostas para um
       determinado padrão de qualidade solicitado pelo contratante.
    *  passa a associação a poder exercer uma função de fiscalização
       remunerada, podendo ser contratada por empresas de construção
       consumidoras de projeto estrutural, com o intúito de repassar esta
       verificação da qualidade contratada à escritórios ou consultores
       idôneos e sem interesse direto no referido trabalho.
    *  passa a associação a poder emitir com o respectivo aval dos
       contratantes e alavancados nestes, certificados declarando que o
       associado já realizou projetos dentro do padrão de qualidade Y,Z,W
       podendo a associação em determinadas situações de dúvida,
       não acreditar na veracidade destas informações e solicitar ao
       associado ai sim, todas as informações de um projeto aleatório
       para verificação de que realmente o padrão de qualidade foi atendido.
    *  obriga a associação a  um programa de divulgação e educacão dos
       contratantes com relação às vantagens de se contratar um projeto
       com qualidade, podendo mais afrente, da mesma forma educar o
       comprador final da obra (sociedade) a exigir qualidade na
       construção + projetos.

B.  Padroniza a solicitação de propostas fazendo com que os escritórios
    participem em igualdade.
    *  através de padrões de qualidade vinculados à proposta de execução
       de serviços, poderão ser equiparados os preços mínimos recomendados
       pelas tabelas de honorários mínimos do instituto de engenharia.
    *  obriga a associação à definição de um padrão mínimo de qualidade para
       onde serão aplicados os valores mínimos de tabela, salvo acordos
       entre contratantes e contratados.
    *  possibilita o contratado a orçar acima dos valores da tabela de
       honorários mínimos em função da qualidade solicitada para o projeto.
    *  impossibilita o contratante de vir a solicitar projetos,
       acompanhamentos ou detalhes de prjeto que não tenham sido solicitados
       no contrato, deixando o projetista em condições de renegociar as
       novas solicitações que estão sendo necessárias.
    *  impossibilita que escritórios com intenções duvidosas, entreguem
       projetos inacabados ou faltando detalhes importantes, que acabam
       acarretando uma degradação da posição do engenheiro estrutural junto
       aos contratantes.

C.  Alicia de modo indireto o interesse de não associados a ingressar na
    associação.
    *  através de programas de qualidade promovidos pela associação
       (cursos, visitas a obras, seminários, etc..) a associação passa a
       ter uma maior penetração no interior do país onde este tipo de
       serviço e consequentemente remuneração atingem patamares críticos.
    *  atribui a associação poderes de conseguir um número maior de
       patrocinadores e sócios colaboradores que se interessam em vincular
       os seus produtos a produtos com qualidade.
    *  cria a associação, um ambiente de não concorrência entre os seus
       associados visto que, o padrão de qualidade e a sua aceitação serão
       feitos pelo contratante maior interessado no processo.

Baseados então nestes princípios, estamos propondo uma maneira de listar os
serviços diretamente e indiretamente ligados ao projeto estrutural.

1.  Distribuição através da associação para os contratantes de projeto
    estrutural (construtoras, arquitetos, orgãoes públicos, etc..) e para
    os associados de:
    *	cartilha simplificada enumerando as vantagens do projeto com
        qualidade e a forma de obtê-lo
    *	procedimentos usuais para se solicitar uma proposta de projeto com
        qualidade
    *	procedimentos usuais para se elaborar uma proposta para um projeto
        com qualidade
    *	fornecimento de uma tabela pontuada com os diferentes padrões de
        qualidade, vinculados às qualidades mínimas recomendadas pela
        associação.
    *	serviços da associação disponíveis aos contratantes e contratados
        para esclarecimentos
    *	valores mínimos recomendados para as várias classes de qualidade

2.  Elaboração de tabela pontuada no formato mostrado abaixo (simplificado),
    enumerando os serviços que poderão ou deverão ser executados para
    obtenção de qualidade.  A qualidade do projeto seria designada por
    exemplo por 6 ou mais campos ( [i] a [vi] ).
    Cada um destes campos irá possuir uma pontuação de 0 a Z
    (0, 1, 2, .... 9, A, B, C...Z) .  A pontuação ‘A’ para cada um dos
    campos respectivamente, representaria a exigência mínima para um projeto
    com qualidade recomendada pela ABECE e consequentemente, referência do
    valor básico da tabela de honorários.  Assim, alguns campos teriam
    pontuação iniciando em um valor X (com X< A e não obrigatoriamente 0)
    e terminariam em pontuação acima de A.   Desta forma, ficariam claros
    os padrões de qualidade que se encontram abaixo do mínimo recomendado
    pela associação e os padrões acima deste mesmo mínimo.

[i]    antes do projeto                ([X] [0] [0] [0] [0] [0] )
       7                       Elaboração de ante-projeto estrutural da
                               fôrma do pavimento tipo; .....
       8                       ....
       A                       [Qualidade mínima recomendada]
                               Elaboração de ante-projeto estrutural da
                               fôrma do pavimento tipo e demais pavimentos;
                               análise de interferências em conjunto com
                               projetos coligados; .....

       B                       ....

[ii]   durante o projeto               ([0] [X] [0] [0] [0] [0])

[iii]  apresentação                    ([0] [0] [X] [0] [0] [0])

[iv]   prazos                          ([0] [0] [0] [X] [0] [0])

[v]    durante a construção            ([0] [0] [0] [0] [X] [0])

[vi]   após a construção               ([0] [0] [0] [0] [0] [X])

Desta forma, vinculado à aceitação de uma proposta, teríamos a tabela de
serviços padrão divulgada pela associação que serviria tanto para
uniformização de propostas, como para homologação dos serviços que serão
executados.  As propostas poderiam ser solicitadas na forma
[A][9][8][B][7][G]  onde cada uma das posições representa uma determinada
pontuação que indica os serviços que serão executados de acôrdo com a tabela
de pontuação.

3.  Cursos e seminários deverão ser organizados pela associação em todos os
    níveis da tabela de serviços padrão e em conjunto com os sócios
    colaboradores, direcionando o aliciamento de novos sócios colaboradores
    que queiram fornecer subsídios aos associados na elaboração de um
    projeto com qualidade.

4.  Complementando todo este trabalho, porém um pouco mais a longo prazo,
    este programa de qualidade poderá ser extendido ao campo acadêmico de
    forma a educar o engenheiro aos procedimentos usuáis de mercado e,
    na medida da necessidade, desenvolver um trabalho conjunto com outras
    classes de projeto a fim de atingir o interessado final - o comprador
    da obra - sociedade, prefeituras, orgãos estaduais e federais etc..  

A idéia de uma divulgação em larga escala como apresentada em 4. acima, me
foi inicialmente passada pelo Eng. Nelson Covas que vem tentando conseguir
textos não técnicos referentes a importância de um projeto com qualidade e,
os vários problemas que podem vir a acontecer na má elaboração de um projeto.
Na ocasião eu havia comentado que concordava com a idéia mas achava que
seria necessário uma infra-estrutura muito bem montada para que esta
'campanha' obtivesse resultados.


SISTRUT® Software e Tecnologia S/C Ltda
Eng. Marcelo de Paula Picarelli